FotoPoesia

Mãe dos filhos peixes

Barra da saia.

Mãe e Filhos são apenas um
Corrente de água forte
O caminho é estreito
E corre como um rio
Em direção ao destino
Deságua em mar aberto
Uma santa devoção
Nas veias escorre água
Selador de um amor profundo

Antes mesmo da concepção
Já navegam em fluídos
Filhos peixes alimentando-se do mar
As primeiras braçadas foram treinadas
Ainda no ventre de uma sereia
És puro como um véu abençoando a tua cabeça

Cai a luz
É chegada a hora
Num suspiro
Partiram-se corações no mar
Rema
E crer pra ver a luz
Do outro lado um frio
Rema num vazio
Da brancura há um rio
Jangada cheia de mar
Vida em terra vou navegar
Pescador rema
É preciso fé para nadar
Rema
Há um cordão de união
A água na altura do umbigo
Benção minha mãe
Benção meus filhos
Banhados de amor e carinho
Rema
É preciso fé para nadar
Um mar de fúrias irá enfrentar
Alguns se afogam
Uns tiveram tudo para mergulhar
Outros nem braços para nadar
Rema
A mãe faz barulho no mar
Pra onde quer que você vá
Sempre volta ao lar
E no colo da mãe repousar
Império de águas
Mar de todas as cores, matizes e luzes
Berço de filhos do mar
Peixinhos a nadar
Em noites de luar
Rege o cantar
Batuque do tambor faz relampejar
Temporal de lágrimas
De castigo irão ficar
Se deixarem de remar

Peixinhos da Chapada.

Cai a noite
No primeiro risco no mar
Iremos nos reencontrar
Saravá, Iemanjá
Odoyá!
Mãe do mar
Que passeia pelas ondas
Em diferentes lugares profundos do mar
Vive na espuma da ressaca da maré
Seu suor é puro perfume
Cristais de pura luz
Anjo de prata
Vestes molhadas
Encharcada de flores
Energia que move águas
No pulsar do coração de um filho
Com fome e com sede
Filhos peixes
Dos seios volumosos sai leite
Eterno elo de proteção

Como por encanto
Somos apenas um
És meu os segredos de sua alma
E os desejos do seu coração
Na escuridão dos sentidos
Nada se ouvi
Nada se ver
Nada se senti
Adormecido em águas correntes
Se manifesta a criação
Para nos dá a graça divina
Acorrentados num colar de contas azuis
Proteção em oração
Segura na mão da tua mãe
Para não cair em confusão

Em fevereiro o mar festeja
Celebração de benção
Lembrança de uma mãe presente
Merecedora do nosso respeito e cuidado
Barcos navegam em seu vestido
Presenteando a Rainha do mar
Do trono a mãe suga os presentes
De uns filhos muito orgulho
Doutros um desgosto profundo

Ilha de devotos
Crentes no poder das águas que os cercam
Adolê, Odoyá! Canto à Iemanjá
Danças de invocação
Saia que rodopia suor
Pingos refletidos no ar
Reflexo de espelho cortante
Trás mudanças no balanço de suas ondas
Penteando os seus problemas
Suprema dama da força
Chama de amor
Acariciando um olhar
Em seu útero familiar
Laços de esperança
Herdados para te ofertar

Pés na água

Odô-fe-iaba!
Deusa lunar
Vislumbram-se flamas sagradas
É fogo que ascende pedidos
E queima os anseios
Chama acesa no ar
Pedras que fumam incensos
Aspirando os seus desesperos
Chama dinheiro pra nunca faltar
Chama amor pra acalmar
Chama paz pra abraçar
Aroma de purificação
Respirando tudo que virá

No pote uma porção pedindo proteção
Ritos de conciliação
Numa vasilha de porcelana azul
Leva comida pro mar
Dos pés da galinha escorre cachaça
Toque de atabaque
E aguapé
Sacrifícios de você
Reparação em redenção

O canto dos pássaros mortos
Anunciam a luz
O sangue dos animais escorrer
E faz desaparecer todo o mal
Circulando e renovando energia

Palavras em pensamento
Sintonizando com o eu supremo
Em mar de ondas há vida
Correnteza que leva sonhos, esperanças e agradecimentos
Num balaio cheio de lamentos
Cada flor um sofrimento
No vai e vem da correnteza
As ondas continuam jogando mais água
Trazendo alegrias, amores e recomeço

Descalços e nus
Águas acariciam seus pés
Abraço de sereia acalenta o filho
Purificando alma com respingos
Ondas batendo nas pedras
Beijo salgado encharca a raiz
Esvaziando medos
Lavando alma e coração
Amor de mãe
Um ar de felicidade e emoção
Selando amor eterno
Yemanjá, mãe dos filhos peixes
Uma maternidade de fé e devoção